A conquista de um Homem! A primeira viagem de carro ao nordeste da Bahia!

“RAID” Ao Cipó Em Automóvel

O título a primeira vista pode parecer estranho à maioria, mas justifica-se pela aventura, empreendimento, engajamento, disposição e outras inúmeras qualidades que podem ser agregadas ao Cirurgião baiano DR. Genésio Salles em sua primeira viagem de automóvel a Cipó em 1926, abaixo irei transcrever toda a narrativa contida no “Guia Termal do Cipó” do General José de F. Lobo sobre essa Viagem, garanto que é uma excelente história:

... Aos 13 de Julho de 1926 o “Diário de Notícias” da Bahia divulgava a tentativa dos bandeirantes do Cipó de realizarem a primeira viagem em automóvel, partindo da cidade de Cajueiro(acredito que era o antigo nome de Alagoinhas) como o fizeram em carro de boi.

Mais uma vez o ilustrado cirurgião baiano Dr. Genésio Salles em companhia do Sr. Francisco Ribeiro Pacheco, proprietário da Garage Elite e dois garimpeiros contratados, num gesto de desprendimento e numa batalha decisiva, resolvem demonstrar aos poderes públicos que se podia construir uma rodovia até Cipó, aproveitando, em grande parte, aquela que a natureza oferecia.

Decisão tomada, disposição de espírito e corpo alicerçadas na convicção da vitória do “Raid”, servem-se de um “Cleveland” de 45.H.P. e transportam-no, por via férrea, para o cajueiro, ponto de partida da nova e arrojada excursão.

O arraial do Cipó situado entre dezoito léguas de Cajueiro e vinte de Barracão, ambos à margem da Estrada de Ferro Leste Brasileiro, começa a viver os seus primeiros dias de esperança e de futuro pela persistência ininterrupta de um só Homem: Genésio Salles. Para ele não há obstáculos, nem mesmo o tempo, apenas um firme propósito o anima em provar que a natureza deu a estrada e exige do homem que a aperfeiçoe, para o uso dos homens e gozo das águas, cujas virtudes medicinais e curativas toda a zona exaltava e a fama se propagava.

Partindo de Cajueiro a 14 de Julho para Villa Rica, Boa Vista, Mucambo (acredito que era o antigo nome de Olindina), Payayá e Soure, no dia imediato atingia Cipó. Não foi sem tormentos que venceu com seus companheiros tão longa travessia sob o fogo intensíssimo das areias escaldantes e, por vezes, a lama dos invernos do sertão. Também não faltaram as apostas vultosas de tabaréus e outros de que o ousado excursionista não lograria êxito. A prova era tão convincente, que as primeiras nove léguas o bravo “Cleveland” correu a 80 km/h. Era o sinal da odisséia... e a caatinga virgem foi a derivante de que serviram os viajantes, tendo como bússola as árvores de maior porte, para se livrarem dos tocos, barrancos, sulcos profundos e outros obstáculos que entravam o percurso das nove léguas restantes.

Entre a agressão dos vegetais cobertos de espinhos, a lombada dos barrancos mais altos, muitas vezes sentiram os viajantes que o bravo “Cleveland”, como se fora um árdego esquipador da zona, empinava-se todo como se pretendesse saltar ou atirar longe seus ocupantes, procurando vencer a rudeza da primitiva estrada. Em luta constante com a natureza bruta, estava a máquina de tão complexa e delicada concepção mecânica. Mas a “estrada inimiga”, como a chamou o próprio Dr. Genésio Salles, que os forçara a entrar na caatinga, foi corajosamente enfrentada em seu matagal cerrado.

Finalmente, sob mil e um tropeços e perigos, viram os tabaréus, entre atônitos e pálidos, um automóvel em sua região a causar-lhes tanto pavor... Mas uma légua antes de Mucambo, a viagem começa a enfrentar peripécias inesperadas da rude estrada natural; entretanto conseguem chegar a Payayá, onde pernoitam com as mãos calosas e o corpo estafado do árduo trabalho de deslocamento e remoção de tudo quanto entravava a marcha do mais valente dos companheiros: o “Cleveland”. Não obstante o povo da zona profetizam que do Payayá a Soure os viajantes não venceriam a estrada, com o concurso dos moradores, que receberam os excursionistas com excepcionais homenagens e sob as melodias da filarmônica local, bombas e foguetes, o percurso foi realizado com os obstáculos anteriores e já citados. Convém destacar aqui a ruidosa homenagem prestada ao Dr. Genésio Salles em Soure, que tanto contraste oferecia com a tristeza que dominava a cidade àquela época. E o “Cleveland”, pela primeira vez, adornou-se de folhagens e de flores do sertão, como se fora um príncipe sob carícias da Corte.

Daí a marcha vitoriosa para Cipó em seu longo trecho arenoso. Muitos habitantes da zona receavam o insucesso da viagem, por isso alguns os acompanharam a cavalo como vigilantes e prontos a socorrê-los. A não ser por duas vezes, foi necessário o auxílio destes espontâneos companheiros. O “Cleveland” não respeitou o areal, que tanto atemorizava naquela época construtores de estradas e viajantes. Trepidando e retorcendo-se sob a pressão do motor em velocidade cumpria o “Cleveland” galhardamente a missão, chegando ao Cipó sob as mais empolgantes demonstrações de apreço, alegria de sua população, o estourar dos foguetes e as melodias da infalível filarmônica. Banhistas e povo associam-se e prestam expressiva homenagem aos excursionistas num banquete de cinqüenta e cinco talheres, além de muitas outras residências particulares, prolongando as festividades e as provas de carinho ao seu grande benfeitor e desbravador, o Dr. Genésio Salles.

Para que se perpetuasse o grande feito, ofereceram uma placa de mármore comemorativa do 1º “raid” de automóvel ao Cipó. E os atoleiros, e as areias, e os tocos, e a estreiteza da estrada, a caatinga, foram vencidas para implantar em Cipó, uma nova Civilização através do destemor de quatro homens que se internaram na mata confiantes no automóvel e disposição de ânimo inquebrantável. E, como bem diz Genésio Salles: “ a pericia e a coragem dos viajentes foram postas a serviço da Civilização”. E para que se não diga haver exagero nesta narrativa, poderão os leitores consultar nas bibliotecas ou nos arquivos das Redações da imprensa o que disseram naquela época, pois citamos neste trabalho a data inicial da excursão, sendo o jornal “A Tarde” de 27 de julho de 1926 um ponto de partida, a fim de que sintam as emoções que dominaram o público baiano ante o audacioso empreendimento.
A posição do automóvel, na fotografia que ilustra a reportagem a que aludimos é um flagrante que indica os riscos por que passaram os seus passageiros, e o quanto souberam suportar, resignadamente.

E foi assim que se traçou a moderna rodovia que hoje serve ao Cipó, Paulo Afonso e Municípios intermediários. Seria demasiado neste trabalho enumerar ou rememorar todos os detalhes ou obstáculos vencidos para realização dessa primeira viagem em automóvel ao Cipó, todavia a imprense de Salvador e outros Estados registraram-na com especial carinho em extensos noticiários, celebrando, também, o primeiro “raid” em automóvel como o fizeram com a primeira viagem em carro de boi.
De regresso, os excursionistas mudam de rumo...

Genésio Salles, os seus companheiros e o valente “Cleveland” não se deram por vencidos para alcançarem Cipó. Novamente irmanados, indomáveis, tornam a desafiar a selva agressiva e o chão traiçoeiro da região. Eram homens destemidos, fortes, a dominarem a fortaleza sertaneja dos tabuleiros. Sem desânimos, investem para a Capital na manhã de 12 de Agosto de 1926, embarcados no fiel e valoroso “Clevaland”.

O intinerário foi: Cipó – Nova Soure – Manga – Serrinha.

Rumando para Tanque e daí para Manga, lugar sem água e sem habitantes, foram dez léguas por tabuleiro de areia. Patinando o “Cleveland”, por vezes empurrado (Ver “A tarde” de 26-8-1926), foi com doze garrafas d’águas “Salutaris” que o autmóvel venceu quatro léguas, devido a um acidente provocado por um toco, que lhe abrira a torneira do radiador naquelas paragens sem água. É possível que outro motor ou automóvel já tenha bebido água mineral, mas do nosso conhecimento este é o primeiro. A seguir perde-se o bujão do tanque de óleo e um capuco de milho substitui tão importante peça. Por outro lado, o óleo de rícino substitui o óleo derramado! Mais adiante, arromba-se o tanque de gasolina, porém o massapé encarrega-se de obsturá-lo...

Agosto é o mês das chuvas no sertão; estas impedem a viagem e obrigam a uma estada de cinco dias na Fazenda do Sr. Antonio Freitas, para poderem vencer as quatro léguas restantes até Serrinha porque a estrada de massapé e lama atolam os próprios animais até o ventre. Essa travessia é de todas a mais trágica, tais as peripécias narradas no jornal aludido. Cerca de 50 garimpeiros, armados de cordas pás, enxadas e tábuas acompanhavam o automóvel, prestando os melhores serviços. E o resumo dessa memorável tentativa foi quase o aniquilamento do melhor companheiro da jornada: - o “Cleveland”.

Desta experiência evidenciou-se a praticabilidade da construção da rodovia que hoje serve ao Cipó em majestoso traçado e moderna pavimentação com extensas e lindas retas e bem traçadas curvas.

Esforço e abnegação constituem o merecimento de Genésio Salles, provando à sociedade que a estrada já existia, pelo que lançou-se à sua exploração, e a sua própria custa, a fim de convencer o Governo da Bahia da sua necessidade e fácil construção. Desta iniciativa corajosa e desinteressada atingiu Cipó ao clima de progresso que hoje assistimos, e conquistou o título – Estância Hidro-mineral. E a ninguém mais deve Cipó o seu progresso do que ao emérito cirurgião e clinico Dr. Genésio Salles, porque só a sua persistência deixou de ser a esquecida vila das águas virtuosas.

Foi, portanto, ele quem fez a construção da primeira estrada de rodagem numa extensão de 114 km, e uma ponte sobre o rio Inhambupe, de quase 70 metros, auxiliado por dois fazendeiros, além de ter sido o primeiro a organizar a primeira empresa de transporte, contituida de quatro automóveis “Chevrolets” para passageiros e dois caminhões de carga. Denominou-se “Empresa Rodoviária”, que ficou pertencendo a ele e o tráfego assegurado entre Alagoinhas e Cipó, em 4 horas e 45 minutos de viagem.

Este benefício era a tentativa do quinto concessionário das águas do Cipó e somente ele conseguiu transformar a região de belas matas, habitantes amáveis e opilados, em um centro de saudável repouso e progressista. Em 1927, surge em Cipó o seu primeiro hotel o Hotel Termal, e logo depois o Radium Hotel, ambos propriedades do infatigável amigo da região e clinico caridoso. Não é possível que o povo de Cipó esqueça em qualquer tempo o seu maior benfeitor, o homem que tanto deu do seu coração e da sua ciência à sua população. E Cipó durante longos anos só contou com um empreendedor: Genésio Salles, cujos haveres e proficiência médica deu por inteiro, devotamente, ao progresso de Cipó.

E o Cipó de hoje outra coisa não é senão o retrato fiel de Genésio Salles, o seu desbravador e pioneiro indormido. E, assim, repousa à margem direita do rio Itapicuru a rainha dos milagres do sertão, abraçada pela imensidão dos tabuleiros que a circundam e apertam-na no infinito de um panorama cizento, que se descortina ao descer a estrada em ladeira ígreme que conduz ao tesouro líquido.

E as baraúnas e aroeiras saúdam alegres o viajante ao tempo em que uma suave brisa se espalha em leve movimento pelo espaço, e a limpidez dos céus ilumina as clareiras silenciosas em que se distendem...

O que é certo, porém, é que a fama das águas do Cipó ainda desafiará a ciência e os homens por longos anos, porque a fonte é exclusivamente medicinal e não utilitária, comercial.

Três frondosos e majestosos tamarindeiros, possivelmente mais que seculares, dois pés de cajaranas, umas dez casas, eram o traço característicos que embelezava o antigo arraial do Cipó, além do velho e indefectível barracão da feira. E o sinal cristão adornava-lhe, também: uma capelinha abandonada...
E ai está um resumo do Cipó antigo. Hoje, Cipó é uma grande cidade.

Por General José de F. Lobo

Porque Cipó precisa do "Caldas"?


Por que Cipó precisa do Caldas?



''Caldas provém de ''calidas'', acusativo do plural feminino do adjetivo ''calidus, a, um'', concordando primitivamente com águas, águas cálidas.

No dicionário Latino - Português de José Cretella Júnior e Geraldo de Ulhoa Cintra, editora Nacional, constam o adjetivo calidus-a-um, quente, que tem calor, e o substativo calida-ae, a água no estado de quente.

inicia o parecer a partir do que registra o famoso dicionário Aulete: Calda, pl. fontes de água termais. As Caldas da Rainha. Águas das Caldas, Banhos de Caldas. Fem lat. ''Calidus. Recorre, depois, a O Morais, ''Caldas, no pl. águas impregnadas de enxofre e partículas metálicas dos leitos por onde passam, tépidas ou quentes de que se usa na medicina.

Logo em seguida, passa a expor: O adjetivo de primeira classe ''calidus, a, um'', que já em latim aparece na forma sincopada ''caldus'' (W. Meyer Lubke, '' Introdução o estudo da glotologia romântica parágrafo 103, pág. 211) tem a significação de ''quente'', qu aparece no italiano ''caldo'' e, no francês ''chaud''. Lembrem-se as conhecidas frases ''Fã caldo'' e ''il fait chaud'' Ele explica que em Portugal e na Espanha, principalmente na Galiza é muito frequente o topônimo Caldas aplicado a lugares onde existem águas medicinais.

E acrescenta: Temos em português o adj. ''cálido'' - quente, ardente, fogoso - o qual vem diretamente do latim ''caldu'', forma já sincopada. E faz várias outra considerações. Para ele o que prevalece é a idéia de quente, aplicado às fontes termais. O consagrado temalista, dermatologista e historiador, Dr. Benedictus Mário Mourão, em seu livro Quarteto construtor de Poços de Caldas e a epopéia de Pedro Sanches, 1988, na pág. 18, ao tratar da origem do nome de Poços de Caldas, depois de recorrer ao Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa de Caldas Aulete, que registra o substantivo feminino calda que diz respeito a líquido engrossado por uma dissolução de líquido fervido nele, expõe que, tanto, em Portugal, como na Espanha, há estâncias termais chamadas Caldas, e cita Caldas da Rainha e Caldas da Vizela, em Portugal; Caldas de Olivedo, Caldas de Reys, caldas de Malavella Gerona e Caldas de Bersaya - Santander, na Espanha. Já no Brasil, temos Caldas da Imperatriz, em Santa Catarina; Caldas do Cipó, na Bahia e Caldas de Pirapetinga, Caldas Novas e Caldas Velha, em Goiás, entre outras.

Fonte: Jornal da Cidade


Fica fácil de perceber a necessidade do resgate do “Caldas” para Cipó, não é só uma conquista etimológica que indica a existência de águas termais por aqui é também uma conquista real da importância que essas águas termais tem para todos os cipoenses e a lembrança que ela é um meio e uma fonte de riqueza, ainda, pouco ou mal explorada por aqui.

É sabido que em Cipó foi aprovada uma lei municipal visando à colocação do Caldas no nome de Cipó, só que para dar validade de fato é necessário o reconhecimento por parte da União e dos Estados para que os órgãos Federais e Estaduais possam atualizar o nome da cidade, ou seja, Cipó só tem validade como “Caldas de Cipó” no próprio município dentro dos órgãos municipais, para os outros municípios do Brasil, ou órgão federal, Estadual ou qualquer lugar do Mundo continua oficialmente como “Cipó”.

Então é necessário que se busquem formas, mecanismos, ou qualquer meio legal junto a União para conseguir “Caldas” para Cipó, como vimos, ela serve de identificação da existência de águas Termais na localidade, e algo que precisamos muito é de propaganda, divulgação da cidade e a colocação desse complemento já faria por si só um grande marketing gratuito de uma de nossas maiores riquezas.




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MÁTERIA: LAURO ALISSON
POSTAGEM: LAURO ALISSON

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